Rádio Mistral FM: "Rodéo"

11:25 Posted In 0 Comments »


Rodéo // Rodeio

(Zazie, no disco "Rodéo", 2004)

Rodeio
Isto é a vida, não o paraíso...


Você caiu na armadilha
Caubói, de cima de sua sela
Você apostou no cavalo errado
É seu primeiro grito
e todos comemoram
Isspé prazeiroso e é doloroso
Você cai contra sua mãe
Você diz para si mesmo que no fim das contas
você podia ter tomado um tombo pior
Até aqui tudo bem
Mas caubói, não esqueça
que seu cavalo continua saltando
É o...

Rodeio
Isto é a vida, não o paraíso...


Você se arrasta de quatro
Você cai, você se ergue
E ainda por cima a escola não te empolga
Você começa a andar plas ruas
Você é o mais forte deles, caubói
entre os baratos e os malandros

Você abandona sua família,
usa uma garota após a outra
Elas choram, você não está nem aí
Uma noite, uma hora, um segundo de alegria
como todas essas pílulas que você engole
Como o ...

Rodeio
Isto é a vida, não o paraíso...


Você caiu na armadilha
até o nariz na neve
no caminho para o paraíso
Você fala de um herói
guilhotinado em pleno galope
e você pensa que todos aplaudem

Você cai, você levanta
até o dia em que você bate as botas
Tudo isso para cair de volta no esquecimento
Acabou o jogo, caubói, mas é garantido
você não pode cair mais que isso...

***

Zazie é uma dessas cantoras/compositoras que faz valer a pena toda a dor de cabeça para encontrar discos ou traduzir as letras. E, de qualquer forma, ver uma mulher cantando hoje em dia sem um rapper ou danças de ataque de epilepsia é um alívio aos olhos e ouvidos... :)

Soa o alarme

09:45 0 Comments »
"Anna, você vai ter que voltar aos exercícios", explicou, muito gentil, o meu professor na academia.

Ele nem me deu bronca pelos dois meses que fiquei parada, por conta das confusões gerais da mudança. Nem precisou - os números do exame ergométrico falavam bem alto por ele: está na hora de mudar de curso, se eu não quero ficar (mais) parecida com um refrigerador de calças jeans.


"Se não tem jeito, então ajeitado está", eu suspirei. "Começo na segunda-feira?"

"Se quiser vir amanhã ou na sexta para ver como funciona o esquema de aparelhos..."

"Prefiro na segunda-feira. A pesssoa precisa se despedir de seu sedentarismo com calma!"


O professor riu e disse que tudo bem, é justo. Portanto, lá vou eu, a partir de segunda-feira, recolocar minha mochila nas costas e correr um tanto atrás do prejuízo. Contra a lei da gravidade e a favor dos meus joelhos (que doem quando fico parada), allez hop...!

Mondo Mistral: Reconhecimento de terreno

08:59 Posted In 1 Comment »
Estou morando em prédio pela primeira vez na vida (o Dióxido de Carbono, meu prédio na Inglaterra, não conta porque só tinha quatro andares e não tinha porteiro nem elevador) e por enquanto tudo bem.

Outro dia precisei lavar a janela. Não dava para lavar direito do lado de fora - não é por nada, mas eu moro no quinto andar.

A vizinha do lado é japonesa. Mas japonesa mesmo, de ler jornal da comunidade e pedir para que as pesoas tirem o sapato quando entram no apê. E ela tem um cachorro do tipo escandaloso. O engraçado é que o cãozinho só é escandaloso em horário comercial, o que é ótimo.

Temos vistas para os bifes dos vizinhos do outro prédio: só dá para ver as áreas de serviço. Um dia acenei para uma empregada de uniforme azul com frutas estampadas. Ela acenou de volta. Virou um ritual. Ela tem uns uniformes bem chocantes.

No meu quarteirão tem uma sinagoga, uma pizzaria, uma tabacaria, uma farmácia e um posto de gasolina. E tem sempre obras na rua durante o fim de semana, justo quanto você precisa dormir.

No mais, tudo funcionando. E isso é mais que excelente.

Questionário

10:28 2 Comments »
O que você estava fazendo há exatamente 10 anos atrás?
Indo para a escola, estudando para o vestibular (eu queria estudar ou na Cásper ou na PUC-SP), escrevendo muito e ouvindo muito The Doors (confesso que tive um best-of) e The Who.

O que você estava fazendo há um ano atrás?
Estava organizando o meu jantar de noivado, que foi no feriado do Sete de Setembro (caramba, um ano já?!), trabalhando no mesmo lugar que hoje, escrevendo muito e ouvindo musique française e The Who.

Cinco lanchinhos que você gosta
* suco de abacaxi com hortel
ã
* pão de queijo
* misto quente
* p
ão com ricota e azeite (na cozinha da casa dos meus pais, melhor ainda)
* chocolate


Cinco canções que você sabe a letra toda
Descontando Beatles e The Who, cinco que me ocorrem:

*Le Chanteur, Daniel Balavoine
*You Keep Me Hanging On, Diana Ross & The Supremes
*Taxi, Harry Chapin
*Last Train to Clarksville, The Monkees
*Sans Contrefaçon, Mylene Farmer

E muitas outras...

Cinco coisas que faria se ficasse milionária
* Colocaria a bolada num fundo bancário
*Mochilaria muito
*Compraria a casa dos meus sonhos
*Ajudaria muita gente sem dizer que sou eu
*Compraria uma frota de Fuscas de coleç
ão.

Cinco maus hábitos
* Perder a hora quando acordo
* Roer as unhas
* Falar sem pensar
* Espiar jornal/revista/correspondência alheia (o famoso "peruar")
* Ouvir música muito alto (ainda vou ficar surda...!)

Cinco coisas você gosta de fazer
* Ler
* Escrever ficç
ão
* Ouvir música
* Andar com meus fones de ouvido (inspiração garantida)
* Observar a fauna humana, quando ando de carro/ônibus/metrô.

Cinco coisas que você jamais usaria
* Salto agulha
* Tintura loiro-Hebe
* Legging
*
Casaco de pele (mesmo que seja sintética)
* Brinco estilo "argola de pendurar toalha"

Cinco brinquedos preferidos
* Giz de cera
* Bichos de pelúcia
* Ludo
* Jogo de palitos
* Lápis de cor

Chez moi

08:36 2 Comments »
Como você sabe que está visitando minha casa: quem mais no mundo teria almofadas estampadas com capas de discos dos Beatles e um abajur em forma de Lampadinha?

Cinco livros

10:14 2 Comments »
Atendendo a um desafio do João (lui qu'aime aussi les chansons de l'Hexagone) que me foi feito antes de viajar: uma lista dos cinco livros que marcaram a minha vida.

Sem quebrar muito a cabeça, porque se eu pensar muito eu desisto de fazer a lista, eis os que mais me marcaram - sem nenhuma ordem de preferência ou importância:



1. Anna Karenina, Leon Tolstói

2. 1984, George Orwell

3. Olhai os lírios do campo, Érico Veríssimo

4. Le Petit Nicolas, Sempé e Goscinny

5. Wuthering Heights, Emily Brontë.

Anna Arcadievna foi a primeira heroína humana com quem cruzei na literatura - antes de Mme. Emma Bovary, Esmeralda ou Christabel LaMotte. Tolstói, apesar de seus entediantes solilóquios sobre a fé e o homem, captou a atenção da adolescente que um dia eu fui e nunca mais se dissipou. Reli por estes dias a história, desta vez contada em francês (o mais próximo que eu vou chegar do original, porque não pretendo aprender russo nesta encarnação) e me surpreendi em ver como a Senhora Karenina ainda me assusta. E quanto a tagarelice do Levine ainda me enche.


Olhai os lírios do campo não foi meu primeiro Veríssimo (a honra é de Clarissa, que meu padrinho me presenteou de Natal por achar que eu já tinha idade "para ler livro de gente grande"). Mas é o que cimentou duas paixões: pelo autor e seu estilo marcante e pela escrita em si (eu queria - ainda quero! - escrever algo assim na minha vida). Todas as subtramas me agradam, todos os personagens me surpreendem. Sou fã de carteirinha, mesmo. Érico Veríssimo é como os Beatles são para mim - a pedra fundamental de quase tudo que sou.


Le Petit Nicolas. Outra obra do meu padrinho; ele me deu a tradução da Martins Fontes quando eu era criança. Li até gastar, literalmente - a encadernação há muito que foi para o espaço. Quando aprendi Francês o suficiente para ler livros infantis, comprei uma versão de bolso e agora quero comprar as outras. Sempé e Goscinny são meus heróis - só quem leu sabe quanto de tristeza adulta transpira nas aventuras do pobre Nicolas e seus coleguinhas de escola.


1984 - li pela primeira vez aos quinze anos, na biblioteca da escola. Voltei tantas vezes para suas páginas que nunca me ocorreu comprar uma cópia para mim - eu carrego a história no sangue. Acabei comprando uma edição da Penguin este ano só por desencargo de consciência - e porque a biblioteca da minha escola não me deixou mais levar o livro para casa, já que eu estava formada há pelo menos doze anos (como se isso fosse impedimento - desde que aquela edição da Brasiliense está lá na estante, com certeza absoluta eu fui a única leitora...). De qualquer forma, ao reler, eu descobri que a história ainda estava comigo e que só não gastei dinheiro à toa porque a edição tem um texto interessantíssimo do Orwell sobre a novilíngua.


O que ocorreu com Orwell também é o caso com com Wuthering Heights. Leio todos os anos, invariavelmente, porque a história para mim é inevitável, incontornável, majestosa. E os anos passam, passam e eu continuo achando Cathy Earnshaw uma imbecil por ter juntado os trapos com aquele molenga loiro ao invés de ter cedido à força da natureza que é o Heathcliff.

E é isso, João. Não sei se dá para conhecer uma pessoa pelos livros que ela lê - confesso que até fico com medo do que um psicanalista encontraria na minha cuca se resolver analisar esses cinco pilares da minha formação emocional. Mas que eu amo a todos, amo - e isso é tudo.

Os cinco sentidos de Bs. As.

09:03 3 Comments »
Ou Buenos Aires, como queiram.

Vê-se parques lindos, praças, pracinhas; carros e ônibus que são verdadeiros inoculadores de tétano móveis; avenidas de dez pistas, um oceano de táxis. A televisão é um misto de SBT com Cultura, as rádios até que são legais.

Parece que todo habitante do gênero masculino na cidade nasceu de terno, gravata, sobretudo e gel na cabeça. Pelo menos dois itens sempre aparecem no conjunto, seja o sujeito de onde for. As mulheres gostam de tintura loira.

Ouve-se muito o Gotan Project, Tanghetto, Bajoprofundo, a volta do Soda Stereo dez anos depois, Miranda e Charly García. E também tem Fito Paez, Man Ray, Los Abuelos de Nada, Los Fabulosos Cadillacs, Autenticos Decadentes e outros muitocentos grupos de rock (adorei os nomes, os cabelos, o som, a atitude - quase tudo enfim).

Também ouve-se cumbia, que é um ritmo para dançar, gênero "latino" genérico. Divertido na primeira vez, irritante nas outras duzentas. E as trilhas sonoras das novelas para crianças também.

Bs. As. tem gosto de medialuna, dulce de leche, alfajor e chocolate. Os cafés envidraçados, onde dá para ver o tempo e a fauna passar. E como esse pessoal come - um prato individual serve um exército na boa. E defitivamente não é uma cidade amigável para os vegetarianos, a não ser que você goste muito de batata frita ou morrones (pimentão vermelho).

Tem teatros, muitos. Livrarias, incontáveis. Um grupo humorístico-musical chamado Les Luthiers que faz violoncelos com tonel de óleo, trombone com bidê e outras maluquices. Vê-se espectros de Evita, de Maradona e de Che Guevara em tudo que é canto. Os mortos nunca dormem na Argentina, pelo visto.

E a Mafalda é o símbolo nacional. E olha que o Quino deixou de desenhá-la faz três décadas.

Sente-se frio - de rachar os ossos, de doer as maçãs do rosto. Mas pela quantidade de aparelhos de ar condicionado que vi, o verão deve ser tão duro quanto para os moradores. A cidade tem o cheiro do frio, da terra, fritura e poluição.

Um tanto de saudade pelo que foi, um tanto de esperança pelo que vem a ser. Agora começa!

12:00 2 Comments »

Perguntaram certa vez ao rabino norte-americano Mendy Hecht o que era, afinal de contas, o casamento. Eis a resposta dele:


"O que é o casamento? Primeiramente, o que não é o casamento? Não é nada que você verá na televisão ou no cinema. Não é algo que você aprendeu na escola ou com seus amigos.

Casamento não é atração.

Casamento não é romance.

Casamento não é desejo.

Casamento não é uma certa palavra de quatro letras.

Não é uma paixão ardente.

Não é a história de pessoas lindas com dentes brancos brihantes vivendo vidinhas perfeitas.

Estas são partes do casamento - importantes, também - mas apenas pedacinhos do quebra-cabeça, combustível para a fogueira, remos para o barco.

No começo do mundo, existia apenas um homem e uma mulher. Eles eram duas metades de uma forma inteira. Eles se encaixavam e completavam um ao outro - fisicamente, emocionalmente, intelectualmente e espiritualmente. Eles criaram o padrão de casamento para a humanidade. Porque o casamento, no fundo, é "uma mão lava a outra".

Você a ajuda, ela te ajuda.

Você satisfaz as vontades dela, ela satisfaz as suas.

Ela quer amada, você quer amar.

Casamento é conexão. A idéia é ser parte de Outro. O casamento lhe transforma de uma pessoa centrada em si mesma para uma pessoa centrada no outro.

Você lava, ela enxuga.

Você a faz se sentir querida, ela faz você se sentir importante.

Você se entrega a ela, e ela se entrega a você.

Você se casa para se doar, não para receber - mas quanto mais você se doa, mais você recebe. E talvez a parte mais crítica de um casamento é seu estado mental e emocional. Porque o casamento é um estado de ligação, e a atitude que vem com o território. É uma luz-guia constante, não uma infindável explosão de desejo ardente.

Atração, romance, desejo, beleza e atributos físicos são refletidos por essa luz. Embora tudo isso contribua para o sucesso matrimonial, é sua ligação compromissada ao outro que é a tela onde isso será pintado."


É isso que eu te ofereço - não um pedaço de papel com um novo nome ou um pedaço de céu inatingível, mas uma companhia para a jornada.

Haut les coeurs, en avant, charge.... et Allez Hop! :)

Pequenos detalhes

09:49 1 Comment »
Um porta-retratos embrulhado em papel de seda. Uma reunião. Uma caixa com arranjos. Um monte de caixas de bebida fazendo barricada no corredor.

Dois, não, três vestidos de festa pendurados no vão da escada - um lilás, um dourado e um verde. E uma nota da costureira avisando que é para buscar o terno, que está pronto.

Um buquê de flores, uma fila, muitas risadas, muito a fazer, um tanto de saudade, um tanto de vertigem diante do futuro. E assim a contagem regressiva vai chegando a seu final.

O sagrado direito de reclamar

12:17 3 Comments »
E por um acaso você conhece alguém que gosta de crítica? Só se o fulano for masoquista diplomado.

Mas tem profissão que é, naturalmente, parabólica de reclamação. Exemplo: goleiro, síndico, dentista, atendente de SAC.

E político em cargo público.

É um fato inexorável da vida: você nasce, cresce, morre e entre uma coisa e outra você escuta crítica. Construtivas, destrutivas, necessárias, venenosas - não importa o tipo.

Também é fato inexorável da democracia o sagrado direito de reclamar, se assim der na telha. De subir no palanque, no caixote ou nas tamancas e dizer que não gosta, que não é justo, que não é certo. O modo como isso pode ser feito é discutível (e como...!), mas que é parte da função ouvir reclamação sem achar que o mundo está contra você, isso não se nega.

Pelo menos é o que se espera de adultos, responsáveis e com capacidade de discernimento.

Isso se é que a gente aprendeu alguma coisa com a tal da Revolução Francesa, como alguém citou por aí...