Boas notícias

12:08 1 Comment »
Boas notícias acontecendo com pessoas que você gosta são assim mesmo - elas vêm de repente e deixam você com um sorriso tão fácil no rosto que você não sabe como passou o dia inteiro sem sentir isso.

No caso, fiquei sabendo que o office-boy do meu ex-escritório arranjou um emprego bem melhor perto da casa dele, com possibilidade da empresa pagar parte da faculdade que ele sempre quis cursar. E, sim, estou feliz com ele. Com a possibilidade que ele possa evoluir finalmente e deixar a azarada moto para trás um pouco (as trocentas vezes que ele foi assaltado ou se acidentou, não vale a pena listar mesmo).

Estou longe para dizer pessoalmente a ele que desejo toda a sorte do mundo. Mas dá para desejar isso em pensamentos e eis o que estou fazendo agora.

Shakin' All Over

05:11 1 Comment »
Sobrevivi ao meu primeiro terremoto hoje de madrugada. Quer dizer, os momentos em que a terra tremeu em Norwich, reflexo de um terremoto de 5.3 pontos em Linconshire, condado logo acima de East Anglia.

A sensação é estranha. Eu estava na cama, por volta da uma da manhã, quando a cama começou a tremer. OK, acordei achando que o alquimista tinha esbarrado em alguma coisa -- e de repente notei que os móveis ao redor também estavam tremendo. Durou pouco e eu, no quinto sono, achei que tinha sido alucinação minha. Até que eu li os jornais agora há pouco...!

Pelo que os jornais locais estão dizendo, foi só mesmo o susto e por aqui ninguém saiu ferido. Ainda bem. Mais uma para contar para os familiares em casa (de qualquer forma, melhor do ser avisada de um ataque terrorista, como me aconteceu em 2005...).

Pequena alegria

15:03 1 Comment »
O som do Big Ben às seis horas -- na BBC Radio Four, anunciando o Six O'Clock News.

Quando ouço, me sinto estranhamente bem e a salvo.

Vícios Confessos, XI - Caneta-tinteiro

12:52 Posted In 2 Comments »
contei o quanto gosto de papelarias. Agora, mais essa. Depois dos lápis de cor e giz de cera (adoro garatujar com eles, mesmo não tendo nem técnica nem talento para o desenho), parece que agora sofro de fascinação por tintas e penas.

Começou quando adotei o uso de canetas-tinteiro (além da famosa Parker Signet do meu avô, uso no dia-a-dia uma Parker 51, azul com tampa prateada). Esse tipo de objeto demanda cuidado e abastecimento um tanto constante. Só que, ao contrário das Bics, você não precisa se limitar a escolher entre duas ou três cores. Dê uma espiada, por exemplo, no catálogo da J. Herbin, a fábrica de tintas para escrever mais antiga do mundo (desde 1670). É de enlouquecer ou não?

O prolema: não sou calígrafa e uso minha Parker como instrumento de trabalho. Não ficaria bem preencher cheques, relatórios ou questionários com cores tão chamativas. Mas, quer saber? Assim que puder, vou comprar um vidro ou dois de tintas coloridas. A vida é muito curta para ter que escrever em azul-esferográfica.

Viver para ver

12:09 2 Comments »
Em 27 anos de vida, vi pela tela da televisão e pelas páginas dos jornais: quatro presidentes norte-americanos (Reagan, Bush pai, Clinton, Bush filho), quatro primeiros-ministros britânicos (Thatcher, Major, Blair e Brown), dois papas (João Paulo II e Bento 16) e só uma rainha da Inglaterra. Presidentes da França, eu peguei o Mitterrand, o Chirac e agora o Sarkozy.

Lembro até hoje que eu achava que a Thatcher e o Reagan eram como reis de seus países e que quando teve eleição nos EUA, eu me assustei -- uai, então o presidente muda?

É, vai rindo, vai. Eu não tinha a menor idéia de como essas coisas funcionavam. Eu nasci em 1981. A União Soviética e o Muro de Berlin ainda existiam. Democracia, che cosa è esso? Pombas, eu lembro do Lech Walesa, dá um desconto!

Presidentes brasileiros: quando eu nasci, ainda era o Figueiredo? Pois, era mesmo, acabei de conferir. Tenho vagas lembranças de vê-lo na "Semana do Presidente" na televisão. Depois, obviamente, José Sarney, Collor de Mello, Itamar Franco, depois o FHC duas vezes e depois o Lula duas vezes.

Lembro de leve das Diretas Já e não me lembro da morte do Tancredo Neves. Mas lembro do meu avô reclamando do Sarney, das trocas de moeda, da campanha eleitoral de 1989, as tabelas para comprar revistinha, as filas no supermercado do bairro quando vinha carne, essas coisas. Meus pais e meus tios votaram todos para o Mário Covas no 1o. turno. No trabalho da minha mãe, lembro que dois professores quase se pegaram de tapa porque um era Lulista e o outro tinha collorido. Longa história.

Enfim. Eu não assisti a posse porque estava na escola. O dia seguinte foi amargo -- lá se foram as economias da família! Lembro do impeachment, que eu pronunciava "impemachente" porque não tinha idéia de como era dito (vá lá -- não era melhor que o Roberto Freire, que falava "impiximã").

No dia em que foi votado o dito-cujo impeachment, mamãe não me deixou ir na escola. Ela achou que ia ter tanque na rua. Eu achei legal -- perdi a aula de Química no laboratório (lembro até hoje que isso me custou meio ponto na nota do bimestre), mas fiquei em casa ouvindo o Alexandre Garcia na TV e comendo chocolate Bis. Eu gostava muito do Alexandre Garcia.

Veio o Itamar e o Fusca e o Ciro Gomes e sua chuquinha como ministro, depois o Plano Real, depois o FHC e a reeleição e a dona Ruth e depois eu entrei na faculdade -- eu me formei na época em que o Lula foi eleito, vi a posse na praia. Ou será que estou me confundindo? Não, está certo, fui conferir de novo - caramba, faz tempo isso...!

E, durante toda essa história confusa e enrolada, eis que o Fidel era sempre o mesmo -- com o mesmo uniforme e o mesmo chapéu estranho, o mesmo discurso e toda a mesma história. Eu cursei faculdade de Comunicação Social, logo tive minha fair share de histórias sobre Cuba, os cubanos, o Socialismo etc. Nada superava ou soterrava a história do professor de Espanhol das minhas irmãs, que mandava caixas e caixas para a família em Havana: papel higiênico, cadernos, canetas, brinquedos.

E não é que o dito se aposentou? E ditador se aposenta? Vê se não começa a rir, vai. A gente sempre espera que os ditadores caiam do poder, ou de podres ou então porque morreram. E não que eles se aposentem, como se ditador fosse emprego com contribuição sindical.
O mundo muda muito, não acha?

Redação: Uma questão sangüínea

09:54 Posted In 1 Comment »
Eu estava preocupada com a possibilidade de não poder doar sangue aqui na Inglaterra. O questionário que o National Blood Service enviou era bem severo no fator "viagens ao exterior", especialmente nas Américas -- malária, doença de Chagas (aqui chamado simplesmente T. cruzi) e outras especialidades da casa. Eu sei que não tenho nada disso, mas até explicar que focinho de porco não é tomada...

No fim das contas, eis que aceitaram minhas hemoglobinas paulistanas, não sem alguns exames e consultas a um atlas médico tão bem detalhado, mas tão bem detalhado, que eu quis saber se podia comprar um para levar para minhas irmãs (não, não podia. Mas o enfermeiro perguntou porque eu queria um desses -- e isso serviu de quebra-gelo durante os exames).

De resto, foi tudo quase como no Pró-sangue do Hospital das Clínicas, exceto que o uniforme das enfermeiras aqui é azul-escuro, eu ganhei um adesivo escrito "Be Nice To Me - I Donated Blood Today" e um lanchinho de chá com biscoitos ao invés do famoso sanduba com suco do HC. A sensação engraçada de orgulho + dor no braço + tontura é a mesma em qualquer latitude, pelo que deu para perceber...!

***

Se existe uma coisa para a qual eu faço campanha -- aliás, a única coisa para a qual eu faço camapnha -- é para convencer as pessoas a doar sangue. Sinceramente, fora por medo de agulha, não sei porque mais gente saudável não se candidata. Afinal, todo mundo reclama que o dinheiro está curto -- então, por que não ajudar sem precisar colocar as mãos no bolso? É só estender o braço e mandar bala. Não dói, não demora e você ainda ganha lanche, fora a sensação de "dever cumprido" que não tem dinheiro que pague. Então... por que não?

Out and About

05:37 1 Comment »
Não temos carro cá na Ilha. Logo, quando vamos sair, é sempre de ônibus.

Não que eu tenha queixas a respeito. Os ônibus daqui são limpos, com aquecimento e bancos estofados (vá lá, bem remendados em algumas linhas, mas estofados ainda assim). As ruas são, como diria o alquimista, irritantes de tão bem pavimentadas. Os motoristas (que são também os cobradores) são simpáticos, em 99% dos casos.

A motorista do 24 Thorpe Road/N&N University Hospital já nos conhece e cumprimenta quando nos vê (não pelo nome, porque são ingleses e certas coisas não se faz por aqui). O ônibus que vai para o supermercado é de dois andares -- adivinha se não tem certo casal de brasileiros que parece criança subindo a escada...

Dá para visitar outras cidades do condado com a rede de transportes. Mais garantido que os trens, sempre atrasados ou parando no meio do caminho por causa de "reparos essenciais". Dá um trabalhão pegar o busão, mas funciona. Em duas horas e meia (e três ônibus depois), já estávamos vendo o gélido mar do Norte pela janela. Esplêndido, diria. Muito gelado, mas esplêndido.

Poeminha de St. Valentine

11:47 1 Comment »
Todas as declarações de amor não valem nada
comparadas
com a idéia de andar de mãos dadas
num dia nublado
ou então de ir ao mercado
e catalogar as pessoas que passam
pelas coisas que elas colocam no carrinho.

Diamantes são lindos, mas são só pedras
-- caríssimas, mas pedras e mais nada.
Prefiro um piquenique de comida improvisada
ou um bilhete no bolso do casaco
ou qualque coisa nessa linha de raciocínio.

Eu passei metade da vida lhe esperando --
agora que você chegou
pretendo passar a outra metade
ao seu lado, observando
a passagem do tempo no seu olhar.

Felicidade...

14:37 1 Comment »
...é receita de bolinho ou biscoito que dá certo.

O Mercado

20:16 Posted In 2 Comments »
A última novidade do Mercado de Norwich é uma micro padaria. O padeiro, 59 anos, é um desses heróis da resistência frente ao pão de fôrma e o bromato de sódio. E ainda por cima é simpático -- oferece um pedaço do produto, conversa, faz piada. Impossível não sair de lá com pelo menos um filão. Eu sei porque eu estou comendo um pedaço do pão agora, enquanto escrevo...

No mercado tem de tudo -- o menor salão de barbeiro da cidade (chamado, oh ironia, Kojaks), barraca que vende lã, barraca que vende chapéu, a barraca dos emos (badges de bandas de rock, agasalhos chamativos etc), a peixaria, o açougue (aliás, dois açougues, um na frente do outro), a doceria. Tem o pessoal do fish'n'chips, do sanduíche de pernil (com molho de maçã ao invés do vinagrete) e os três chineses que vendem, ora essa, comida chinesa. Tem bijuteria, roupa militar, saris, uma filial do sebo da rua principal, loja de "artigos para o lar" que vende de vassoura até galocha.

Tem o casal da quitanda, a senhora jamaicana que vende bananas e outras coisas "exóticas", a família da cantina (os melhores cheeseburgers da cidade), a moça dos sabonetes artesanais e a dupla dos queijos, "fornecimento local" (e alguns exemplares vindos da França, de quando em vez). O mercado funciona há 900 anos sem interrupção - o que faz dele o mais velho ainda em funcionamento na Ilha. E num lugar onde tudo é assim antigo, isso impõe respeito.

Eles funcionam seis dias por semana. No sábado, parece que a cidade inteira aparece para fazer compras; é um mar de gente fazendo fila na barraca do hamburger, ou então negociando o preço das batatas ou experimentando um casaco novo. Domingo o mercado fecha e não passa nem mosca pelo pátio. É de uma tristeza sem fim, o mercado fechado num dia de garoa.
Mas enquanto ele funciona, meu coração canta -- tem poucas coisas mais animadas do que o dia-a-dia do mercado da cidade.

Rien à signaler

06:23 1 Comment »
Quarta-feira de Cinzas, os alunos da Universidade já fazendo planos para o feriado da Páscoa, amigos comentando o que farão pela Quaresma, notícias não tão boas vindas do Brasil e engraçadas (ou mais ou menos) vindas da BBC Radio Norfolk, que escuto pelo computador.

A única coisa complicada no horizonte é o questionário para doação de sangue, que chegou pelo correio ontem. Digamos que ter nascido no Brasil, simplesmente, pode me impedir de doar minhas hemoglobinas paulistas para os britânicos (malária e febre amarela, anyone?). Vejamos como é que vai ser a entrevista, daqui a duas semanas...

De resto, rien à signaler. E ainda bem!

Os Correios

18:29 1 Comment »
Coisa interessante de ver na ilha são os Correios daqui - o Post Office ou Royal Mail (são a mesma companhia -- Royal Mail é o nome oficial e o responsável pela impressão de selos).

Percebendo que cartas não são tão populares quanto antes, eles diversificaram os serviços. Hoje, além da função original, o Post Office mantém um banco postal (como no Brasil), faz câmbio de moeda estrangeira, tem um cartão de crédito próprio, faz seguros de todos os tipos e tem uma operadora de telefone e internet a preços competitivos.

A internet aqui de casa, por exemplo, é do Post Office. Funciona divinamente bem e não precisou nem vir o técnico instalar -- o manual de instruções foi claríssimo. Segundo o pessoal que nos atendeu, os serviços são muito procurados por idosos que querem se comunicar com os filhos e fazer compras no Ebay, mas não tem nem paciência nem conhecimento de informática o suficiente para ficar instalando coisas muito complicadas.

Uma outra coisa engraçada do Post Office é o Postbus -- se você está em uma região remota da ilha e precisa ir para outro lado, você pode literalmente pegar carona no furgão dos Correios, desde que não se importe de dividir lugar com os sacos de correspondência e desde que você esteja bem cedo no local indicado.

Taí um monte de idéias que os Correios brasileiros podiam adaptar, não? Pelo menos a idéia dos ônibus -- afinal, tem lugar no Brasil que só os moços de amarelo alcançam...!

Carnaval?

08:48 2 Comments »
Não fosse o aviso na igreja de que semana que vem tem missa de Quarta-feira de Cinzas, nem me teria passado pela cabeça que já é Carnaval.

Não que fizesse alguma diferença, parando para pensar -- não gosto de samba e, de qualquer forma, inglês (em alguns cantos) só comemora Carnaval em julho, que é quando faz calor por aqui -- e nem tem carro alegórico nem nada, é uma coisa mais bloco na rua e policiais ou com boás na cabeça (que algum passante jogou) ou sem metade do uniforme, mas ainda com aqueles capacetes engraçadinhos.


Festa de Carnaval em Notting Hill Gate, Londres - reparem os tampões de ouvido do policial


Claro, gosto de ver os compactos dos desfiles e morro de rir com os "blocos das virgens" todos os anos. É uma bela farra para quem curte, o que não vem a ser meu caso. Estou bem melhor aqui, mesmo que a neve já tenha derretido -- nem deu tempo de fazer um boneco!