Voler

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Faz dez anos e mais um tanto, mas eu ainda me lembro. Eu estudava numa escola no Brooklin Novo, passava na frente do aeroporto de Congonhas todo dia na volta para casa. 

O professor de Geografia - era um barbudo fenomenal que só ficou um ano e pouco na escola - disse que estava tomando banho em casa quando escutou uma baita de uma explosão. Achou que tinha sido um botijão de gás ou qualquer coisa do gênero. Era o Fokker 100 da TAM que tinha desabado a quatro quarteirões da casa dele.

Naquele avião estava um amigo de faculdade do meu pai. A viúva desse amigo fundou a associação de vítimas de acidentes aéreos; às vezes você calha de vê-la na televisão. 

Nunca tive medo de andar de avião. Tenho bem  mais medo de andar de carro por São Paulo - opinião que às vezes é esculhambada pelos amigos. Mas é verdade: acidentes de carro eu vejo quase todo dia. Não tem como não ter medo de ser o próximo na lista.

Porém, não ter medo desses pássaros de lata não me faz deixar de sentir um grande peso no coração quando um deles tomba. Por tudo o que poderia ter sido, por todas as histórias com outro fim. E, no silêncio de quem observa o céu de inverno, eu penso neles e nos que esperam por eles, aguardando o ponto final. 

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