Mistral Gagnant

Diálogo ocorrido ontem:


Uma colega: E quem é seu modelo de vida?

Eu: Tem que ser um só? Porque eu tenho um monte: Luther King, Gandhi, Willis Carrier (N.T. - o inventor do ar-condicionado), os Beatles, Daniel Balavoine...

Colega: Só homem na lista? Você não tem nenhum modelo feminino?

Eu: Er... Ter, eu tenho.

Colega: Quem?

Eu: Golda Meir e Michele Bachelet...

Colega: Mas justo dois trubufus?

Eu: Ô, caramba! Você quer modelo de vida ou de beleza?! Eu quero aprender como eles faziam o que eles faziam e não copiar o penteado!

Colega: Até porque você ia ficar ridícula com uma franjinha Beatle...


Bom, melhor ouvir isso que ser surda...

Pequena história besta: mamãe comprou um carro usado. Uma bela troca, um carro muito legal, essas coisas todas. Até aí, nada com o qual eu (que nem dirijo) fosse lá me preocupar.

Só que o dito carro é de um tom que não dá para descrever senão como champagne, cor que eu nunca tinha visto na rua. Daí o apelido infame que eu arranjei para o veículo.

E de repente eu começo a reparar que tem um monte de carro da mesma cor andando por aí. Ou seja, ou eu sou uma distraída de pai, mãe e parteira ou uma frota de Champagne Seminovas invadiu a cidade e eu fui a última que notou.

Ou as duas coisas, o que é bem mais plausível...

Aniversário de S. Paulo. Mutantes se apresentando no Parque da Independência. Para estacionar, um drama. Para entrar no parque, só voando. Ficamos no portão, com uma bela vista para um monte de formiguinhas com guitarras e microfones no palco.

Valeu a pena só para ter ouvido 50 mil pessoas cantando a "Balada do Louco". E para ver o grande bêbado dançando "El Justicero". E pela farra, regada a soda, sandubas de calabresa e risadas.

Era um sábado, nove horas da manhã - um mês e meio antes do previsto.

No dia de S. Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas. Numa esquina da Avenida Paulista.

Vinte e seis anos atrás.

Descrição da cena na qual me encontro no momento:

Comendo o (provavelmente) último panetone que sobrou no escritório e escutando o pessoal fazer o planejamento do mês. Começam as aulas do filho da moça do RH, o office-boy vai comprar um presente para a namorada, eu volto para o Francês, a animada do Financeiro vai começar o cursinho para o exame da OAB.

Enquanto isso, a chuva deu uma trégua lá fora.

O mundo continua explodindo do outro lado da janela (meio literalmente - trabalho perto da ex-futura-Estação Pinheiros do metrô). E por aqui, um microcosmos de poucas novidades, de planos e calma. Aquilo que nos resta: a certeza que, para o bem ou para o mal, a vida continuará.

Quando eu virar gente, quero escrever como o Luiz Alfredo Garcia-Roza. E ponto.

Só Deus explica como é que minha cabeça funciona. Detesto chegar atrasada em qualquer compromisso e odeio quando as pessoas se atrasam. Ao mesmo tempo, sou um desastre com prazos - quando não gosto da missão, procrastino até o ponto da corda realmente apertar no pescoço.

Tal é o caso agora. A corda queima embaixo do meu queixo. E nem assim eu me animo.

Vous avez lu l'histoire de Jesse James / Comment il vécut, comment il est mort ? / Ça vous a plu, hein ! Vous en d'mandez encore / Eh bien, écoutez l'histoire de Bonnie et Clyde...

Gainsbourg era feio como a fome, Bardot não canta(va) muito, mas quando estavam os dois juntos era dinamite!

Sim, aquela da Igreja Renascer, para que não exista nenhuma dúvida. Não conheço-a pessoalmente. Sei bem quem é porque fui forçada a assistir seus programas por dias a fio.

Explico-me. Quando minha avó foi operada, eu a acompanhei no hospital por dois meses - e a nonna, por algum motivo, adorava escutar a "bispa" na televisão.

Com avós não se briga, ainda mais avós em recuperação de cirurgia delicada. Portanto, lá fui eu ouvir a dona da Renascer na TV, dia sim dia também, pelo menos quatro horas por dia. Se isso durasse mais tempo, quem ia precisar ser internada era eu. Aquela voz! Aqueles maneirismos! Era possível mesmo que alguém fisgasse aquela isca?

Pois não é que tinha gente que fisgava?

Eu curto música gospel pra caramba. E tenho amigo batista, amigo luterano, amigo pastor (o Neil salva-vidas lá de Norwich, que já me tirou de algumas encrencas), amigo teologista. Acho que foi isso o que me impediu de colocar todos os protestantes no mesmo saco e sair xingando todos quando era para xingar só um.

Diz um ditado anglo-saxão que um tolo e seu dinheiro logo se separam. Esse me parece ser o caso da perua de Deus - encontrou quem precisasse de alguém para conversar e salvar a vida e em troca fez o que os jornais anunciam. Esconder dólar na capa da Bíblia! Se não fosse relato policial (e ainda por cima relato de policial norte-americano, que desconhece a figura), eu diria que é um desfecho belíssimamente inventado para resumir as atividades da bispa...

• Resolução de ano novo resolvida logo na primeira semana de janeiro é coisa rara, mas eis que isso ocorreu: voltei para as piscinas. E continuo precisando de um walkman que toque embaixo d'água, com certa urgência.


• Durante o recesso de fim de ano, fiquei refém das telenovelas. É aquela coisa de sempre: chove, não dá para ir na praia, algum engraçadinho fez as palavras cruzadas do jornal antes que você e só sobra a TV para distrair. Só que minha família é toda de espíritos-de-porco e dada a comentar acidamente a atuação, as roupas e sotaques dos atores. Digamos assim: não sobrou pedra sobre pedra. E eu não consigo olhar mais para a cara da Regina Duarte sem rir.


• Fora isso, nenhuma outra resolução para 2007. Já tem coisa demais no meu calendário para pensar no que eu posso arrumar. Vou viver um tanto e fazer valer o oxigênio e o sal que eu consumo - para mim, já está de bom tamanho.

Escrito ao som de Baby One More Time - Travis

(sim, é Aquela música e Aquela banda. Recomendação do Inagaki - você vai se surpreender)

Incrível como qualquer bronzeado desaparece tão logo a gente ponha os pés no escritório.

2007 começou com praia, doze caras em um chalé minúsculo, chuva, um monte de panetone, um monte de churrasco, sorvete Rochinha e um monte de borrachudos com sede de sangue. Ou seja, tudo nos conformes.

Um pé, depois o outro e aos poucos o ritmo vai voltando. Vamos lá. Haut les coeurs, charge, Allez Hop!