Rádio Mistral - Mixin' It All Up
10:48 Posted In Rádio Mistral FM 0 Comments »Não ria, se puder!
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Não ria, se puder!
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E enquanto isso o mundo continua aí. Câmbio desligo.
Sou viciada em música desde pequena. A família influenciou muito: aos seis ganhei uma vitrolinha dos meus avós; aos oito meus pais me presentearam com meu primeiro walkman, que só pegava rádio. Se me deixassem, eu dormia com o dito ligado a toda nas orelhas.
Era um reflexo do comportamento do pessoal de casa. Minha avó, quando ficou viúva, passava as noites em companhia de seu fiel rádio de pilha, escutando a Jovem Pan AM, para espantar a solidão. Meus pais até hoje tem o rádio-relógio que desperta a casa inteira aos berros.
As músicas que tocavam na rádio eram as que tocavam na novela e nos programas de TV - antes do advento da MTV, videoclipe era um troço que passava no Fantástico ou então em programas como o Japan Pop Show. Ou seja, era raro. Para ouvir música, só caçando a melodia à unha no dial. E você tinha que rezar para que o programador (não chamam de DJ) fosse do tipo camarada, porque senão eram as mesmas músicas o tempo inteiro.
Os lançamentos das novas canções de um artista eram uma celebração: vai tocar primeiro aonde? E toca descobrir e sintonizar no dia, para gravar a música na fita para não perder mais. Os discos eram caros desde aquela época, e muitas vezes o único acesso que se tinha era mesmo pelas ondas sonoras. E as fitas rodavam de mão em mão, até literalmente se gastarem.
Era o tempo das melôs (alguém além de mim e do Akamine lembra dos Housemartins e sua Build, vulgo 'melô do papel'?), das infames traduções ao vivo, das promoções malucas (teve uma em que o sujeito precisou medir a Av. Paulista inteira com uma escova de dentes), do locutor falando em cima da introdução, estragando qualquer chance de gravação decente.
Mas isso foi once upon a long ago. E eu nem sei se minha avó ainda dorme ao som da Jovem Pan.