Melôs e outras memórias radiofônicas

12:40 3 Comments »

Sou viciada em música desde pequena. A família influenciou muito: aos seis ganhei uma vitrolinha dos meus avós; aos oito meus pais me presentearam com meu primeiro walkman, que só pegava rádio. Se me deixassem, eu dormia com o dito ligado a toda nas orelhas.

Era um reflexo do comportamento do pessoal de casa. Minha avó, quando ficou viúva, passava as noites em companhia de seu fiel rádio de pilha, escutando a Jovem Pan AM, para espantar a solidão. Meus pais até hoje tem o rádio-relógio que desperta a casa inteira aos berros.

As músicas que tocavam na rádio eram as que tocavam na novela e nos programas de TV - antes do advento da MTV, videoclipe era um troço que passava no Fantástico ou então em programas como o Japan Pop Show. Ou seja, era raro. Para ouvir música, só caçando a melodia à unha no dial. E você tinha que rezar para que o programador (não chamam de DJ) fosse do tipo camarada, porque senão eram as mesmas músicas o tempo inteiro.

Os lançamentos das novas canções de um artista eram uma celebração: vai tocar primeiro aonde? E toca descobrir e sintonizar no dia, para gravar a música na fita para não perder mais. Os discos eram caros desde aquela época, e muitas vezes o único acesso que se tinha era mesmo pelas ondas sonoras. E as fitas rodavam de mão em mão, até literalmente se gastarem.

Era o tempo das melôs (alguém além de mim e do Akamine lembra dos Housemartins e sua Build, vulgo 'melô do papel'?), das infames traduções ao vivo, das promoções malucas (teve uma em que o sujeito precisou medir a Av. Paulista inteira com uma escova de dentes), do locutor falando em cima da introdução, estragando qualquer chance de gravação decente.

Mas isso foi once upon a long ago. E eu nem sei se minha avó ainda dorme ao som da Jovem Pan.

3 comentários:

Oswaldo Akamine disse...

Japan Pop Show! Cacilda, salve a Rosa Mieko!

Anônimo disse...

Eu assistia o Japan Pop Show e achava o máximo. E assistia também o progrmaa judaico que tinha depois, qual era o nome?, Brasil Shalom, algo assim.

gravar música clássica na cultura FM era mais fácil, o locutor não falava - o problema era que uma fita tinha 30 minutos e `1as vezes uma música tinha 40!

** ** ***

João disse...

Oras, memórias radiofônicas são maravilhosas. No interior eu combinava com o programador da rádio que era meu amigo, de soltar a música em horário ajustado e sem o papagaio do locutor falando em cima.

Também ouvir a Mundial em ondas curtas para ouvir Led, Beatles, Cream, Bowie...era demais.

As melôs não eram minhas preferidas.

Sobre o Japan Pop Show, confesso que não gostava, mas curtia meus vídeosclipes preferidos no antigo Pop Show da TV Cultura.

Bises

João