Atendendo a um desafio do
João (lui qu'aime aussi les chansons de l'Hexagone) que me foi feito antes de viajar: uma lista dos cinco livros que marcaram a minha vida.
Sem quebrar muito a cabeça, porque se eu pensar muito eu desisto de fazer a lista, eis os que mais me marcaram - sem nenhuma ordem de preferência ou importância:
1. Anna Karenina, Leon Tolstói
2. 1984, George Orwell
3. Olhai os lírios do campo, Érico Veríssimo
4. Le Petit Nicolas, Sempé e Goscinny
5. Wuthering Heights, Emily Brontë.
Anna Arcadievna foi a primeira heroína humana com quem cruzei na literatura - antes de Mme. Emma Bovary, Esmeralda ou Christabel LaMotte. Tolstói, apesar de seus entediantes solilóquios sobre a fé e o homem, captou a atenção da adolescente que um dia eu fui e nunca mais se dissipou. Reli por estes dias a história, desta vez contada em francês (o mais próximo que eu vou chegar do original, porque não pretendo aprender russo nesta encarnação) e me surpreendi em ver como a Senhora Karenina ainda me assusta. E quanto a tagarelice do Levine ainda me enche.
Olhai os lírios do campo não foi meu primeiro Veríssimo (a honra é de
Clarissa, que meu padrinho me presenteou de Natal por achar que eu já tinha idade "para ler livro de gente grande"). Mas é o que cimentou duas paixões: pelo autor e seu estilo marcante e pela escrita em si (eu queria - ainda quero! - escrever algo assim na minha vida). Todas as subtramas me agradam, todos os personagens me surpreendem. Sou fã de carteirinha, mesmo. Érico Veríssimo é como os Beatles são para mim - a pedra fundamental de quase tudo que sou.
Le Petit Nicolas. Outra obra do meu padrinho; ele me deu a tradução da Martins Fontes quando eu era criança. Li até gastar, literalmente - a encadernação há muito que foi para o espaço. Quando aprendi Francês o suficiente para ler livros infantis, comprei uma versão de bolso e agora quero comprar as outras. Sempé e Goscinny são meus heróis - só quem leu sabe quanto de tristeza adulta transpira nas aventuras do pobre Nicolas e seus coleguinhas de escola.
1984 - li pela primeira vez aos quinze anos, na biblioteca da escola. Voltei tantas vezes para suas páginas que nunca me ocorreu comprar uma cópia para mim - eu carrego a história no sangue. Acabei comprando uma edição da Penguin este ano só por desencargo de consciência - e porque a biblioteca da minha escola não me deixou mais levar o livro para casa, já que eu estava formada há pelo menos doze anos (como se isso fosse impedimento - desde que aquela edição da Brasiliense está lá na estante, com certeza absoluta eu fui a única leitora...). De qualquer forma, ao reler, eu descobri que a história ainda estava comigo e que só não gastei dinheiro à toa porque a edição tem um texto interessantíssimo do Orwell sobre a novilíngua.
O que ocorreu com Orwell também é o caso com com
Wuthering Heights. Leio todos os anos, invariavelmente, porque a história para mim é inevitável, incontornável, majestosa. E os anos passam, passam e eu continuo achando Cathy Earnshaw uma imbecil por ter juntado os trapos com aquele molenga loiro ao invés de ter cedido à força da natureza que é o Heathcliff.
E é isso, João. Não sei se dá para conhecer uma pessoa pelos livros que ela lê - confesso que até fico com medo do que um psicanalista encontraria na minha cuca se resolver analisar esses cinco pilares da minha formação emocional. Mas que eu amo a todos, amo - e isso é tudo.