Identidades

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A primeira vez que eu coloquei lentes de contato, eu não me reconheci no espelho. Acostumada com os óculos, fiéis companheiros desde os meus (já bem distantes) 14 anos, eu estava de repente sem escudos, sem defesas - e vendo tudo, ainda assim! Coisa estranhíssima, sensação engraçadíssima.

A primeira vez que coloquei tinta de outra cor na caneta-tinteiro, após tantos meses de anotações em sóbrio azul-lavável, foi uma surpresa. De repente eu não reconhecia meu texto - era a minha caligrafia, sim, e lá estavam os traços separando as sentenças no lugar do ponto-e-vírgula. E no entanto o cérebro demorou a reconhecer, porque estava tudo escrito em tinta marrom!

Quando tive que me dirigir a um guarda, na França, para pedir informações sobre qual ônibus pegar, me assustei ao ver que sim, eu falava o idioma -- o guarda compreendeu o que eu disse e eu compreendi o que ele disse. Uma coisa é falar na sala de aula, outra coisa é falar ao vivo, na hora em que as coisas apertam, principalmente se o cérebro está condicionado a perguntar em inglês quando longe da terra natal.

Não são só as medidas do corpo que nos definem. Às vezes é bom lembrar disso.

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