Mondo Mistral: O homem que cantava no ônibus

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E até que ele era bem afinado. A platéia é que não era das melhores: os viajantes mortos de sono dentro do ônibus, oito horas da manhã. Gente que queria era estar na cama, mas se arrastava para ir trabalhar e estudar.

E tudo o que essa gente não quer é ouvir um fulano cantando, ainda que baixinho e ainda que afinado, na última cadeira do coletivo.

Não chegava a ser irritante, como o pedreiro que discursava num tom de voz alto demais para um ônibus, dois dias antes (ele estava em teoria conversando com outros, mas como os colegas não respondiam, virou um monólogo). Não era como as madames que falam no celular e nos obrigam (porque não dá para mandá-la desligar o aparelho!) a escutar seu dia-a-dia detalhado e entediante. O cara só estava cantando para si mesmo.

E isso irritou todo mundo no ônibus. Ninguém mandou ele ficar quieto, mas dava para perceber os passageiros se virando, achando estranho, fazendo caretas. Estranhando que alguém quisesse cantar numa hora daquelas, num lugar daqueles, para uma platéia tão mal humorada e estressada que só queria um pouco de silêncio, numa cidade que nega até isso aos seus.

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