Viver para ver

12:09 2 Comments »
Em 27 anos de vida, vi pela tela da televisão e pelas páginas dos jornais: quatro presidentes norte-americanos (Reagan, Bush pai, Clinton, Bush filho), quatro primeiros-ministros britânicos (Thatcher, Major, Blair e Brown), dois papas (João Paulo II e Bento 16) e só uma rainha da Inglaterra. Presidentes da França, eu peguei o Mitterrand, o Chirac e agora o Sarkozy.

Lembro até hoje que eu achava que a Thatcher e o Reagan eram como reis de seus países e que quando teve eleição nos EUA, eu me assustei -- uai, então o presidente muda?

É, vai rindo, vai. Eu não tinha a menor idéia de como essas coisas funcionavam. Eu nasci em 1981. A União Soviética e o Muro de Berlin ainda existiam. Democracia, che cosa è esso? Pombas, eu lembro do Lech Walesa, dá um desconto!

Presidentes brasileiros: quando eu nasci, ainda era o Figueiredo? Pois, era mesmo, acabei de conferir. Tenho vagas lembranças de vê-lo na "Semana do Presidente" na televisão. Depois, obviamente, José Sarney, Collor de Mello, Itamar Franco, depois o FHC duas vezes e depois o Lula duas vezes.

Lembro de leve das Diretas Já e não me lembro da morte do Tancredo Neves. Mas lembro do meu avô reclamando do Sarney, das trocas de moeda, da campanha eleitoral de 1989, as tabelas para comprar revistinha, as filas no supermercado do bairro quando vinha carne, essas coisas. Meus pais e meus tios votaram todos para o Mário Covas no 1o. turno. No trabalho da minha mãe, lembro que dois professores quase se pegaram de tapa porque um era Lulista e o outro tinha collorido. Longa história.

Enfim. Eu não assisti a posse porque estava na escola. O dia seguinte foi amargo -- lá se foram as economias da família! Lembro do impeachment, que eu pronunciava "impemachente" porque não tinha idéia de como era dito (vá lá -- não era melhor que o Roberto Freire, que falava "impiximã").

No dia em que foi votado o dito-cujo impeachment, mamãe não me deixou ir na escola. Ela achou que ia ter tanque na rua. Eu achei legal -- perdi a aula de Química no laboratório (lembro até hoje que isso me custou meio ponto na nota do bimestre), mas fiquei em casa ouvindo o Alexandre Garcia na TV e comendo chocolate Bis. Eu gostava muito do Alexandre Garcia.

Veio o Itamar e o Fusca e o Ciro Gomes e sua chuquinha como ministro, depois o Plano Real, depois o FHC e a reeleição e a dona Ruth e depois eu entrei na faculdade -- eu me formei na época em que o Lula foi eleito, vi a posse na praia. Ou será que estou me confundindo? Não, está certo, fui conferir de novo - caramba, faz tempo isso...!

E, durante toda essa história confusa e enrolada, eis que o Fidel era sempre o mesmo -- com o mesmo uniforme e o mesmo chapéu estranho, o mesmo discurso e toda a mesma história. Eu cursei faculdade de Comunicação Social, logo tive minha fair share de histórias sobre Cuba, os cubanos, o Socialismo etc. Nada superava ou soterrava a história do professor de Espanhol das minhas irmãs, que mandava caixas e caixas para a família em Havana: papel higiênico, cadernos, canetas, brinquedos.

E não é que o dito se aposentou? E ditador se aposenta? Vê se não começa a rir, vai. A gente sempre espera que os ditadores caiam do poder, ou de podres ou então porque morreram. E não que eles se aposentem, como se ditador fosse emprego com contribuição sindical.
O mundo muda muito, não acha?

2 comentários:

Clara Madrigano disse...

Um dinossauro que só falta ser enterrado.

João disse...

Pois ler seu texto sobre a história me dei conta que de situações parelhas, mas com a linha do tempo mais lá para trás, afinal conheci Giscard D'Estaing como presidente da França, Garrastazu Médici mandando no Brasil, vi Betinho voltando no aeroporto, re-negociei contratos enormes por causa dos cruzados e tablitas de Sarney e Funaro. Vixe, tô bem velhinho, viu.

Agora, sempre vi este sujeito com desconfiança, apesar do que se falava nas escolas e faculdades. O cara era idolatrado, mas para mim, ditador é tudo igual e não merece meu respeito, apenas minha indignação e reprovação.

Beijos