Urdidura musical
10:04 2 Comments »
Adoro conhecer as histórias por detrás das músicas. Como ou para quem foram escritas, o que elas refletiam, como elas foram gravadas, se eram ou não explicitamente autobiográficas. O som ganha outros tons quando a gente pensa como ele surge.
Quando uma pessoa grava uma canção que não escreveu, ela pode interpretá-la como bem quiser. Saber os motivos da escolha engrandece ou esculhamba de vez a versão, no que me diz respeito. "Hurt", na voz do autor original, é um lamento sobre o viciado em heroína (de acordo com algumas interpretações). Para Johnny Cash, às portas da morte e consciente disso, "Hurt" é um lamento sobre a velhice o fim de tudo.
Eu vi os rascunhos originais de "I want to hold your hand" no Museu Britânico. Escrita a lápis, alguns versos riscados, um comentário, uma anotação quanto à passagem para o refrão. Foi escrita na casa da então namorada do Paul, a ruivíssima Jane Asher. Imagine a cena: John e Paul, um bloco de papel e um lápis, num apartamento pequeno, aloprando um ao outro em busca de uma rima que prestasse. Dá uma outra dimensão para a dupla - mais humana e palatável do que o mito da beatlemania.
"Dieu que c'est beau", do Daniel Balavoine, ganhou outra dimensão quando eu soube que se tratava de uma elegia do cantor ao filho recém-nascido. E soou ainda mais belo ao pensar que a mãe da criança era judia e marroquina, e Daniel era francês e católico - um relacionamento que era visto quase como um crime, tamanho o peso do racismo vigente na época. Sabendo disso, um verso como "et le fruit du péché est très beau" (e o fruto do pecado é belíssimo) muda completamente de sentido: deixa de ser uma figura de linguagem e vira, ao mesmo tempo, um elogio e um ataque.
Pete Townshend escreveu o melhor lamento sobre a falta de amor baseado em suas noites sem sono nas turnês. "No Road Romance", com seu piano melancólico e letra nada floreada, só seria lançada como faixa-bônus do Who Are You, duas décadas após ter sido escrita. Talvez tenha sido melhor assim: ao se ver a queda e o recomeço do autor, os versos ficam ainda mais fortes e a dor fica ainda mais evidente.
Nem todas as músicas tem histórias; no entanto, não é de se estranhar que as canções com um passado ou um motivo sejam sempre as mais saborosas.
Quando uma pessoa grava uma canção que não escreveu, ela pode interpretá-la como bem quiser. Saber os motivos da escolha engrandece ou esculhamba de vez a versão, no que me diz respeito. "Hurt", na voz do autor original, é um lamento sobre o viciado em heroína (de acordo com algumas interpretações). Para Johnny Cash, às portas da morte e consciente disso, "Hurt" é um lamento sobre a velhice o fim de tudo.
Eu vi os rascunhos originais de "I want to hold your hand" no Museu Britânico. Escrita a lápis, alguns versos riscados, um comentário, uma anotação quanto à passagem para o refrão. Foi escrita na casa da então namorada do Paul, a ruivíssima Jane Asher. Imagine a cena: John e Paul, um bloco de papel e um lápis, num apartamento pequeno, aloprando um ao outro em busca de uma rima que prestasse. Dá uma outra dimensão para a dupla - mais humana e palatável do que o mito da beatlemania.
"Dieu que c'est beau", do Daniel Balavoine, ganhou outra dimensão quando eu soube que se tratava de uma elegia do cantor ao filho recém-nascido. E soou ainda mais belo ao pensar que a mãe da criança era judia e marroquina, e Daniel era francês e católico - um relacionamento que era visto quase como um crime, tamanho o peso do racismo vigente na época. Sabendo disso, um verso como "et le fruit du péché est très beau" (e o fruto do pecado é belíssimo) muda completamente de sentido: deixa de ser uma figura de linguagem e vira, ao mesmo tempo, um elogio e um ataque.
Pete Townshend escreveu o melhor lamento sobre a falta de amor baseado em suas noites sem sono nas turnês. "No Road Romance", com seu piano melancólico e letra nada floreada, só seria lançada como faixa-bônus do Who Are You, duas décadas após ter sido escrita. Talvez tenha sido melhor assim: ao se ver a queda e o recomeço do autor, os versos ficam ainda mais fortes e a dor fica ainda mais evidente.
Nem todas as músicas tem histórias; no entanto, não é de se estranhar que as canções com um passado ou um motivo sejam sempre as mais saborosas.
PS: clicando nos links, têm arquivos de som ou as letras das músicas citadas. Não tem link para a música dos Beatles porque essa é praticamente o Hino Nacional: todo mundo sabe como soa. :P
2 comentários:
É, eu sei... "I´ve got you under my skin" foi escrita para a heroína...
Mas continuo gostando da música.
** ** ***
Postar um comentário